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Já nas livrarias, Arame Farpado, o novo romancedo escritor e jornalista, Ricardo Gouveia

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O escritor e jornalista Ricardo Gouveia lançou seu segundo romance, intitulado Arame Farpado, na Livraria Travessa, no Centro do Rio, no dia 10 de junho. O autor, que foi repórter de polícia do jornal O Dia e assessor de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do RJ, conhece bem a violência – pano de fundo da trama literária – que assusta os cariocas.


O prefácio da obra, publicada pela Editora Lacre, é assinado por Fábio Gusmão, jornalista que conquistou os prêmios Esso de Reportagem e Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, entre outros, e teve seu livro, Dona Vitória da Paz adaptado para o cinema e estrelado por Fernanda Montenegro. E ele diz: "É impossível não ler de uma vez só. Se fosse uma série de streaming, seria impossível não maratonar", destaca Fábio Gusmão no prefácio.


 Ricardo Gouveia é jornalista há quase quatro décadas, com passagens também pelas redações do Jornal do Commercio e Folha do Turismo. Tem uma longa trajetória como assessor de imprensa de órgãos públicos, como o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Educação do Estado do RJ. Prestou assessoria também a entidades de classe, entre as quais a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). É formado em Comunicação Social pela Universidade Gama Filho, na qual integra o Teatro/Oficina Literária, espaço de criação e encenação de textos. O seu livro de estreia O homem sem rosto foi escrito a quatro mãos, à distância, em tempo real, na pandemia, com a antropóloga Rose Panet. 


CRIATIVOS - O escritor Ricardo Gouveia já convivia com o jornalista Ricardo Gouveia, desde a militância no jornalismo?

 RICARDO GOUVEIA - Sempre tive, desde muito cedo, uma relação muito forte com o universo das palavras. Menino criado no subúrbio do Rio de Janeiro numa época em que eram poucos os carros em circulação, o que permitia jogar futebol e bola de gude na rua, cresci numa casa onde os livros estavam presentes. Meus pais se separaram muito cedo, seguiram os seus destinos e acabei sendo criado pelos meus avós paternos e pela minha tia, que era professora e irmã do meu pai. Aliás, a minha tia foi a primeira pessoa da família a cursar uma faculdade, visto que, embora ninguém passasse necessidades, muitos, entre os quais o meu pai, abandonaram cedo a escola para trabalhar e ajudar no sustento de suas casas. Assim, cresci numa casa em que havia livros. Eu não gostava de estudar física, matemática, química... essas chatices, mas apreciava as aulas de português e história, porque tinha um interesse especial pelo poder das palavras e pelos caminhos encantadores, tortuosos, grandiosos, dramáticos e cruéis percorridos pela humanidade. Nas estantes da nossa casa se ombreavam romancistas e poetas brasileiros, como Machado de Assis, Monteiro Lobato, Cruz e Sousa e Jorge Amado, entre muitos outros, além de autores portugueses, como Eça de Queiroz, cuja obra O crime do Padre Amaro, que diziam tratar de temas picantes, li com uns 12, 13 anos, às escondidas, como quem entra no quintal do vizinho, rouba uma fruta no pé e vai comer num cantinho, isolado, sem testemunhas. Ou seja, muito antes de exercer a profissão de jornalista, já tinha essa relação forte e existencial com a língua portuguesa, matéria-prima do ofício da minha tia que me criou. A minha relação com a nossa língua foi ainda fortalecida pela qualidade do ensino que recebi nos sete anos que estudei no Colégio Pedro II, onde, inclusive, tive aulas de latim, e pela Oficina Literária da Universidade Gama Filho, coordenada pela professora Marina Paranhos, que me apresentou autores e obras que até então não conhecia, o que abriu muito os meus horizontes. Enfim, a minha escrita é decorrente dessa trajetória de vida que embasou a minha formação intelectual, na qual se inclui preponderantemente o exercício do jornalismo, experiência profissional que burilou o meu modo de ver a vida, como também o de comentá-la. Ainda muito jovem fiz as primeiras tentativas de contos, poemas e crônicas. Mas somente há alguns anos considerei as minhas ideias literárias suficientemente maduras para começar a torná-las públicas.

 

CRIATIVOS - O que ficou da experiência de escrever um livro a quatro mãos?

RICARDO GOUVEIA  - A Rose Panet, com quem escrevi o romance O Homem Sem Rosto, é uma antropóloga, professora e cineasta paraibana, que vive há mais de 20 anos no Maranhão e que conheci num site de relacionamentos em plena pandemia, quando a vacina ainda não havia sequer chegado ao Brasil. Começamos a nos paquerar virtualmente, a conversar sobre a vida e as experiências profissionais e artísticas de cada um. No caso dela, as aulas de antropologia e a direção de curtas-metragens. No meu, reportagens, contos, crônicas, poemas e esboços de romances. Ela, que artisticamente lidava basicamente com imagens, me falou que até iniciara uma experiência de escrever, que foi logo interrompida nas primeiras páginas. Incentivada por uma irmã que vive em João Pessoa, elas começaram a escrever uma história a quatro mãos, à distância, por meio do Google Docs. Eu desconhecia a existência dessa ferramenta que permite compartilhar um arquivo de texto com várias pessoas e ver em tempo real o que cada um está escrevendo naquele espaço. Fiquei fascinado com o relato sobre o funcionamento do dispositivo. Diante disso, ela me perguntou se eu toparia escrevermos uma história juntos, à distância. Confesso que me assustei com a proposta, pois o momento da criação literária é, para mim, aquele em que eu estou mais sozinho. É um tempo de afastamento existencial do mundo que não ocorre em nenhum outro momento. Em outras palavras, jamais me imaginei escrevendo ao computador, com alguém em pé atrás da minha cadeira e os olhos cravados na tela. E mais: além disso, depois trocar de lugar com a pessoa e vê-la dar continuidade à minha narrativa. Achei que seria estranho, mas ao mesmo tempo fiquei atraído com o mistério que envolvia a hipótese inusitada e topei. Discutimos alguns temas por videoconferência, fizemos algumas observações, e ela sugeriu que, eu por conta da minha experiência com a escrita, iniciasse a narrativa. Escrevi os parágrafos iniciais e passei a “caneta” para ela. A rotina era a seguinte: sentávamos ao computador – eu no Rio de Janeiro e ela em São Luís – e trocávamos ideias por vídeo no celular sobre o desenrolar da história. Os primeiros passos foram estranhíssimos. Dei início à história, escrevendo os primeiros parágrafos, e pedi que ela continuasse. Para o meu espanto, ela seguiu um caminho totalmente diferente das possibilidades que cogitei mentalmente como possíveis desdobramentos para os parágrafos que eu escrevera. Foi muito esquisito no início, mas depois fui me acostumando (afinal, era uma criação coletiva) a não pensar no momento seguinte da história a ser escrito por ela, em revezamento. Foi uma experiência inédita e intelectualmente muito enriquecedora.

 

CRIATIVOS – Você tem alguma referência na literatura policial?

RICARDO GOUVEIA - Na verdade, eu não tenho uma paixão especial pelo gênero. O assunto que mais me interessa é a condição humana, seja no campo da literatura ou no âmbito de qualquer área da vida de um modo geral. Ou seja, tenho profundo interesse em tentar entender o que leva alguém a estender a mão para um estranho que precisa de ajuda; o que move uma pessoa a tirar a vida de outra numa situação que flagrantemente não é de legítima defesa; por que as pessoas se apaixonam; como cada indivíduo lida com a finitude imposta pela morte; e por aí afora. Considero que a literatura policial, quando produzida de modo sensível, pode tratar com respeito e profundidade essas indagações, como fizeram magistralmente autores como Rubem Fonseca e Edgar Allan Poe, entre outros. Tratar com especial atenção a condição humana está ao alcance de todos os gêneros literários.

 

CRIATIVOS - Segundo Fábio Gusmão, no prefácio, o seu livro é uma leitura que prende o leitor e que "se fosse uma série de streaming, seria impossível não maratonar". Quando você escreveu, chegou a imaginar o romance chegando às telas? 

RICARDO GOUVEIA - Jamais imaginei nada, pelo menos inicialmente, que não fosse apenas cumprir a necessidade de escrever o livro. Eu tenho a necessidade vital de me expressar. A expressão é a minha forma de ver o mundo, de tentar compreender a condição humana, encarar a vida e lidar com o que ela basicamente é, ou seja, desejo, gozo e sofrimento. Somente quando considero que o que escrevi está definitivamente concluído, começo naturalmente a pensar numa possível publicação, que é um outro momento, também importante. Mas, em princípio, o que eu preciso mesmo é escrever, me expressar. Depois, sinto a vontade de mostrar, contar, o que também é muito prazeroso, mas não é vital. Preciso escrever. Se me lerem, melhor ainda. Mas esta é uma realização posterior. Por isso, em relação à sua pergunta, nunca pensei no Arame Farpado nas telas, embora eu considere e muitas pessoas que leem as minhas coisas há algum tempo também achem que a minha narrativa é rica em imagens.

 

CRIATIVOS - Quando colocou o ponto final em 'Arame Farpado', você virou a página ou a atmosfera do romance ainda ficou presente por algum tempo?

RICARDO GOUVEIA - O João Ubaldo Ribeiro dizia que um escritor nunca conclui um livro naturalmente, pois pede prazos renovadamente ao editor para escrever, corrigir e reescrever interminavelmente a sua ideia. Segundo o João Ubaldo, o escritor só termina o trabalho quando o editor toma os originais das mãos do autor e diz “chega, tenho que publicar!”. No processo de elaboração do Arame Farpado, reli três vezes o que havia escrito, com longos intervalos de tempo entre cada uma delas. Nas duas primeiras, fiz diversas alterações no texto. Na terceira, em que houve um intervalo maior do que nas anteriores, não pus nem retirei uma única vírgula. Considerei que o livro estava pronto e virei a página. Mas a atmosfera do romance nunca sairá de mim.

 

CRIATIVOS - Comente sobre algo que seja de seu interesse e não foi perguntado.

RICARDO GOUVEIA - Gostaria de dizer que a literatura é a mais poderosa de todas as artes. Esta é a minha opinião. É claro que o teatro, e o cinema um pouco mais, são formas de expressão artística capazes de relatar o que não é dito, mas passa na cabeça de um personagem. Mas a literatura, em razão da sua estrutura peculiar, faz isso como nenhuma outra, tornando-a, a meu ver, mais poderosa que as demais. Quando um autor diz o que está pensando um personagem, ele revela a condição humana daquela existência com detalhes, revelando mistérios que, para mim, nenhuma outra forma de expressão artística é capaz de descrever de forma tão complexa e minudente.

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