Enfim, a Fumacinha branca
- Lais Amaral Jr

- 7 de mai.
- 3 min de leitura

Falta pouco para que a fumacinha branca, liberada na Capela Sistina, informe que habemus papam. Por enquanto está saindo uma fumacinha preta, mas é da minha cabeça. No Vaticano, aparentemente, vai tudo bem. Costumo abrir as janelas para que a crônica da quinzena entre voando e se acomode nas páginas em branco. Fiz isso e, até agora, nada.
Nada também é exagero. Vamos lá. Na verdade, eu queria falar das mais recentes despedidas, incluindo a do Papa Francisco. Não gosto de falar de morte, por isso falo dos personagens que nos deixaram nos últimos dias. A primeira personagem é Cristina Buarque de Hollanda, que nos deixou no dia 20 de abril.
1) Cristina é um ramo frondoso de uma família talentosa. Filha de ‘seu’ Sérgio e dona Maria Amélia, tendo como irmãos, Miúcha, Ana de Holanda e Chico. Como não florir também, né?! Professora, cantora, compositora e dona de um parrudo acervo de música, sambas majoritariamente. Cantou e gravou com um batalhão de bambas da nossa música, de Paulo Vanzolini à dona Ivone Lara, passando pela Velha Guarda da Portela, Clementina e um sem número de astros e estrelas.
Em 2011, olhem que maravilha, lançou com Henrique Cazes, um disco duplo com canções de Noel Rosa, “Sem Tostão 2 …A crise continua”, gravado ao vivo no bar Bib-Bip, do saudoso e querido Alfredinho. Por duas vezes a vi no Bip-Bip. A primeira vez foi como estivesse diante de uma entidade – e estava. Belchior diz num de seus standards: “as aparências não enganam, não”. Quando meus olhos bateram nos dela, eu tive a certeza que estava frente a frente com uma pessoa que é pura dignidade. E eu, cheio de intimidade, disse “Oi, Cristina”, que retribuiu o “Oi”. Bastou.
2) No dia 21 de abril, foi embora o Papa Francisco, o senhor Jorge Mário Bergoglio. Confesso que fui conhecer melhor o Papa, via uma série da Netflix “Pode me chamar de Francisco”. E ele já era o Sumo Pontífice, desde 2013. Já na série me encantei com o homem, que durante a ditadura Argentina, já dava provas da sua preocupação com os mais humildes e era contra o autoritarismo. Mais tarde foi arcebispo em Buenos Aires, até que em 2016 a fumacinha branca disse ao mundo que o Vaticano teria o primeiro Papa sul-americano.
Daí em diante, já é a história que todos sabem, um sujeito fantástico, que peitou a estrutura elitizada do Vaticano, fez valer a máxima cristã de ficar ao lado pobres e oprimidos e abraçou setores sociais discriminados por questões de gênero e outras coisas. O melhor Papa que minha geração conheceu. No tempo do Papa João XXIII eu era ainda muito menino. Apesar dos conflitos internos que podem, sim, influenciarem o Conclave, espero e até levo fé, que a fumaça branca traga um Papa que seja do time de Francisco. E não estou falando do San Lorenzo de Almagro, não.
3) E Nana Caymmi, que foi embora no dia 1º de Maio? O que dizer? Eu tomei conhecimento de Nana pela primeira vez, pelo Festival Internacional da Canção, o primeiro, ainda pela TV Rio. Eu era bem criança, mas me encantei com ‘Saveiros’, de seu irmão Dori em parceria com Nelson Mota. A voz dela mexeu comigo e a canção era linda. Embora parte do público do Maracanãzinho tenha discordado e vaiado o seu primeiro lugar.
O tempo passou, eu continuei a curtir sua voz, aquele timbre, na minha opinião a voz feminina mais bonita da MPB. Continuo achando Elis a maior do mundo. Mas a voz da Nana é mais bonita. Assisti show dela no Carlos Gomes (acho que foi lá) e confirmei o que se dizia, que ela de vez em quando, era chegada a dar uma “dura”, fosse nos músicos, sei lá porquê, fosse na plateia, por cantar junto com ela.
Nana Caymmi cantando era uma deusa. Para Teresa Cristina, ninguém cantou a dor do amor como ela. Mas com as vestes de simples cidadã cometia impropriedades típicas dos mortais mais mesquinhos. Como dá vez em que criticou pesadamente, com ofensas impublicáveis inclusive, Chico Buarque e seus conterrâneos Gil e Caetano, que votariam para Presidente num candidato de oposição ao seu, o hoje, felizmente, inelegível. Vocês sabem quem.
É isso. Sempre que posso ouço algumas joias como ‘Medo de Amar’ (Vinícius de Moraes) e a belíssima e tocante ‘Resposta ao Tempo’ (Aldir Blanc e Cristóvão Bastos). Interpretação lindíssima e definitiva, como quase tudo que gravava. Ouvi-la cantando é o céu. Mas não me sentaria à mesa dela para uma cerveja.
Nelson Freitas, um grande compositor brasileiro.
Roda de Samba pra Churrasco, escute na Spotify / Cedro Rosa.
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