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Gelson Mallorca, um artista full time e totalmente colado ao seu tempo

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 Gelson Mallorca é um gaúcho nascido na cidade de Rio Grande (RS) que já há algum tempo vive a linha de frente da efervescência artística e cultural de Resende (RJ). É formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG).


Especializou-se em Arte Educação e é professor de Arte do Estado do Rio de Janeiro desde 2006. Fez sua primeira exposição de desenho em 1993, tendo como tema o Patrimônio Histórico, todas as obras foram publicadas em calendários e revistas.


 Ele já participou de mostras em cidades do Brasil e exterior e ganhou alguns prêmios, dentre eles, o de HQ no Salão Internacional de Desenho para Imprensa de Porto Alegre em 2005, 2010 e 2011, e o de charge no Salão Nacional de Humor do Rio Grande em 2016. Nas artes plásticas, ganhou o Prêmio Macedo Miranda de destaque cultural em 2014 e do Salão da Primavera do Museu de Arte Moderna (MAM) em 2013, 2016, 2019 e 2021, ambos em Resende-RJ.


Publicou quatro livros de quadrinhos para o público adulto, com temáticas entre o documentário social e a autobiografia. Na pintura, se inspira na reutilização de materiais e nas imagens criadas pela natureza, pelo tempo e os acasos do cotidiano. O seu espaço de referência em Resende é a Casa Amarela, localizada no Centro Histórico da cidade. Lá está seu Ateliê e o espaço cultural do artista. Criada entre 2017 e 2018, é onde Gelson ministra cursos de artes visuais e já realizou uma média de vinte eventos culturais, envolvendo literatura, música, teatro e, principalmente, artes visuais. Desde de 2024, a Casa Amarela é Patrimônio Histórico Material, Cultural e Turístico do Estado do Rio de Janeiro.


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CRIATIVOS - Gelson quando e como foi sua chegada para viver de arte numa cidade conservadora, como Resende?

GELSON MALLORCA - Exatamente, por conta de um casal de amigos que fez a graduação em Arte comigo na FURG, em Rio Grande, RS, minha Cidade natal, na segunda metade dos anos 90. Eles estavam morando e dando aula aqui, e me inscreveram num concurso para dar aula de arte para o Estado em 2005. Achei uma boa ideia, principalmente, pela proximidade com São Paulo, onde planejava fazer um mestrado em quadrinhos na ECA/USP, também pela proximidade com o Rio, Cidade que instigava meu imaginário desde criança. Além do mais, já vivia há muitos anos como autônoma na área do desenho e da pintura, fosse realizando encomendas ou oficinas. Esta condição é perigosa, quase impeditiva, para desenvolver um trabalho artístico, a instabilidade financeira é um bloqueador da criatividade, pelo menos, depois da juventude. O magistério me fez aprender muito mais sobre arte e história, além de entender melhor sobre os processos de criação. É uma grande satisfação ver como a prática e o desenvolvimento do desenho tornam crianças, adolescentes ou adultos mais realizados, felizes e protagonistas.


CRIATIVOS - Quando você se deu conta, de que não era um ser Normal? Que era um artista?

GELSON MALLORCA - Quando criança, já tive uns indícios, por volta dos cinco anos, acredito. Se fazia algum passeio ou viagem, qualquer ambiente que me tirasse da rotina, ficava gesticulando com o dedo imaginando estar desenhando o que via. Acho que isso não era algo comum, já que causava certo constrangimento à minha mãe que, às vezes, me questionava. Acredito que era uma maneira de memorizar as formas dos navios, caminhões, cavalos etc. e, posteriormente, desenhá-las em casa. No final da adolescência também, quando comecei a rejeitar o autoritarismo e os destinos projetados pela religião, a família, ou seja, o meio social, incluindo um patrão explorador. Optar por viver de algo que você tem necessidade e prazer em fazer é uma revolução pessoal, principalmente, para quem vem da periferia de uma Cidade da periferia do País.


CRIATIVOS - O que você consumia como arte e o quê, ou quem, serviu como inspiração lá no início?

GELSON MALLORCA - Na adolescência, cheguei a fazer curso de desenho mecânico, gostava de projetar carros e casas, a arte era algo ausente na minha realidade. Por volta dos 18 anos, em 1990, comecei a conhecer quadrinistas europeus como Enki Bilal, Moebius, Mattotti, e alguns brasileiros, como Lourenço Mutarelli e Laerte.  Dentro das minhas condições, tornei-me um cinéfilo, assistindo filmes cult na programação semanal do Carlton Cine na tevê Bandeirantes ou que passavam inadvertidamente nas madrugadas da Globo. Então, meus vínculos iniciais com a arte vieram através dos quadrinhos e do cinema não comercial. Isso me instigou que eu poderia usar o desenho e a escrita para contar histórias que transmitissem o que eu pensava ou idealizava. Na época, já produzia fanzines. Meus primeiros contatos com as artes plástica foram através de revistas e livros de biblioteca. Um dos pintores que me impressionou foi o Lituano, quase brasileiro, Lasar Segall. Esteticamente, nunca fiz nada que lembrasse o trabalho dele, mas, na sua pintura, vi a capacidade de ir bem além da fotografia para carregar as pessoas e os cenários de expressão. Entendi como a pintura, de forma original, relatava as suas vivências, seja denunciando a miséria da sua comunidade judaica no leste europeu ou o deslumbramento que ele teve pela luz e a cor ao encontrar as paisagens e os seres humanos quando chegou ao Brasil no começo do século XX.


CRIATIVOS - E hoje, quem você admira e acompanha na sua área de atuação?

GELSON MALLORCA - Como a minha atuação transita entre as artes plásticas, a ilustração, os quadrinhos e a educação, isto é complexo. Poderia salientar Henrique Oliveira e Adriana Varejão como dois expoentes da arte contemporânea brasileira em museus e galerias. Na área da ilustração, uma homenagem à Gonzalo Cárcamo, o qual tive a oportunidade de fazer dois anos de curso em aquarela no seu ateliê em São Paulo, chileno com uma carreira de quase meio século no Brasil, premiadíssima, inclusive na área da caricatura. É tanta gente boa em cada linguagem da arte que é difícil, mas, se serve como recomendação, na área dos quadrinhos, posso salientar Marcelo Quintanilha, brasileiro que capta muito bem a alma da nossa realidade, inclusive, já teve algumas das suas histórias transformadas em filmes. Como professor, um pedagogo que conheci há quase duas décadas, que veio a Resende, inclusive, foi o português criador da Escola da Ponte, José Pacheco. Ele já teve afetiva atuação no Brasil e foi influenciado pelo nosso grande Paulo Freire. Os conceitos expostos por Pacheco ajudaram a me livrar definitivamente das provas nas minhas avaliações.


CRIATIVOS - Na sua opinião, a arte tem peso na formação de uma sociedade mais justa e equilibrada?

GELSON MALLORCA - Sim, em vários sentidos. Em primeiro lugar, não há como fazer arte sem uma procura por autoconhecimento e um conhecimento da própria realidade, ou, pelo menos, criar uma interpretação desta realidade. Este reconhecimento da realidade já gera uma busca por sua valorização, certa autoestima, daquilo que se vê de justo e genuíno, assim como uma visão crítica daquilo que se percebe injusto, improdutivo e aniquilador do indivíduo na sua plenitude. Se cada ser humano se sentisse capaz de expressar seus sentimentos e conhecimentos, assim como explorar suas capacidades cognitivas e habilidades, seria o fim dos nossos problemas.  Além do mais, há algo melhor para conscientizar e educar uma sociedade do que bons livros, boas músicas ou bons filmes?


CRIATIVOS - Fale da Casa Amarela.   

GELSON MALLORCA - Desde que vim para Resende, em 2006, mantive ateliê onde morei, fosse para fazer meu trabalho ou dar aula particular de arte. Durante os primeiros oito meses, no Alto Penedo, bairro onde consegui me manter nesse começo, fazendo retratos desenhados dos turistas. A partir daí, já vim para o Centro Histórico. Em 2017, resolvi ampliar meu ateliê, foi quando aluguei uma casa justamente amarela. Em 2018, com o movimento Circuito Resende Cultural que criei em parceria com outros agentes culturais, a Casa tornou-se uma espécie de referência, sede dos maiores eventos desse projeto. O que era um ateliê para artes visuais, tornou-se um espaço para a expressão da música, do teatro, e da literatura, não só da produção local, como de autores visitantes. Num período de instabilidade social e ameaças à democracia, a casa recebeu lideranças políticas de relevância Estadual e Nacional que vieram lançar livros e realizar conversas. Tornando-se também um marco de resistência contra o autoritarismo e as ameaças fascistas.


A partir de 2024, com aprovação da ALERJ, a Casa tornou-se Patrimônio Histórico, Material, Cultural e Turístico do Estado do Rio de Janeiro.  Embora com este título, o Espaço continua se mantendo de forma independente, sem apoio de nenhuma instituição pública ou privada. A Casa já teve alunos do Abrigo Municipal e já realizou mais de vinte eventos culturais com entrada livre, mas a área cultural da Prefeitura nunca teve interesse de conhecer e apoiar. Sua manutenção se dá um pouco com a venda da minha produção em aquarela e, principalmente, com os cursos em desenho, aquarela, cerâmica e outras linguagens visuais para crianças, adolescentes e adultos. Desabafos à parte, em 2025, além dos cursos, já realizamos um evento para apresentar a produção do primeiro semestre e, em dezembro, vamos realizar outro com diversas exposições, com lançamento de livro, shows e, quem sabe, alguma apresentação teatral. Tudo isso para não perder a nossa eclética e tradição. Isso também é um convite para os leitores desta entrevista. Sejam bem-vindos!


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