Verão
- Sonali Maria
- 15 de out.
- 1 min de leitura
Da janela do quarto em frente à Serra de Madureira
Agora.
No horizonte pousa um pássaro transparente de asas líquidas. Silencioso entardecer nessas Sete Horas da Noite (que expande o Verão em vagalhões de ternura).
Pássaro adocicado. Cujo perfume sorvo agora, enquanto o cheiro desse corpo imensurável inunda o horário. Degradê, pássaro transparente e inusitado. Aparição que meus olhos escolheram para ver dessa janela, em nulos sentimentos,
o Vento te anunciou, espalha-te pelo resto da tarde, casas e ruas, ó doce derramado da compota! Que mela de frutas celestes a mesa, o chão dessa cozinha onde tantos tentam adivinhar teu gosto.
Poucos saberão que o silêncio desse pássaro, fogo que tudo transmuta, não deve angustiar aos que têm ouvidos. Aos que bem ouvirem a fala será desnecessária (Babel de tantas confusões), como a cor nessa Hora translúcida que pousa e desmancha-se no horizonte.
(dos escritos guardados da década de 1980)
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