A COP30 e a Escorregada de Bill Gates
- José Luiz Alquéres

- há 1 hora
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Há poucos anos, Bill Gates publicou o livro Como Evitar um Desastre Climático, no qual defende o uso de diferentes tecnologias industriais e de transporte capazes de levar o mundo à neutralidade de carbono.
Metodicamente, ele examina os principais setores industriais consumidores de energia — aço, cimento, petroquímica — demonstrando que os substitutivos capazes de reduzir emissões custariam entre 20% e 50% a mais do que os processos atuais. Além de analisar os usos finais de energia, Gates dedica parte do livro à produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis, manifestando apoio à energia nuclear e mencionando seus investimentos constantes em startups desse setor.
A obra o consolidou como um empresário de perfil progressista e, ao mesmo tempo, despertou olhares hostis da Casa Branca quando Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, gerando apreensão entre as Big Techs, incluindo as de Gates.
Agora, na semana que antecede a COP30, Gates divulgou uma carta pública recomendando que esforços tecnológicos sejam concentrados na adaptação do planeta ao provável fracasso global na redução de emissões — uma posição oposta à que antes defendia. Bastou isso para que fosse louvado por Trump e duramente criticado por influentes ambientalistas.
A reação ambientalista talvez seja injusta. Gates parece apenas reconhecer, de forma objetiva, o insucesso das projeções quanto à limitação do aquecimento global a 1,5°C até 2050. No ano passado, a temperatura global média já ultrapassou esse patamar. Gates, homem de ciência mais do que de política ou comunicação, foi franco ao indicar o novo foco de suas empresas — e o que considera desejável que outras façam: preparar-se para o desastre, em vez de tentar evitar o inevitável.
A decisão foi corajosa. Mas Trump, um mestre da comunicação, soube explorá-la e distorcê-la. O episódio é um lembrete sobre o cuidado necessário ao nos comunicarmos publicamente. A carta de Gates, aliás, traz importantes mensagens sobre a necessidade de reduzir desigualdades sociais e adaptar infraestruturas para mitigar os impactos dos eventos extremos que se avizinham.
Infelizmente, o estrago foi grande, sobretudo para as novas gerações, que enxergaram na carta apenas um recuo estratégico para proteger os interesses econômicos de suas empresas nos Estados Unidos.
Esse recuo me lembrou uma famosa música do início dos anos 1970, dos compositores Marcos Valle e Paulo Sergio Valle, intitulada Com Mais de 30, cujos primeiros versos dizem:
“Não confie em ninguém com mais de trinta anos
Não confie em ninguém com mais de trinta cruzeiros.”
Realmente, quem tem menos de trinta anos pagará um alto preço pela nossa falta de coragem em imediatamente mudar de rumo.
O grande desafio da humanidade é a sustentabilidade: interromper o acelerado processo de extinção de espécies, a acidificação dos oceanos, a emissão de gases de efeito estufa, a elevação do nível do mar, a contaminação dos lençóis freáticos, o derretimento da tundra siberiana — com o risco de expansão de novas pandemias — e todos os efeitos correlatos ao aumento da temperatura. Esse objetivo só será alcançado com políticas públicas supranacionais, pois o ambiente físico do planeta não reconhece fronteiras.
Apesar dos esforços de lideranças abnegadas — como André Corrêa do Lago, Ana Toni, Izabella Teixeira e outros brasileiros que levaram a sério esta COP30 — o mundo ainda ficou aquém de despertar uma consciência realmente preservacionista e restauradora da natureza. Mais uma vez, o lobby da indústria fóssil impôs um pensamento igualmente fóssil, retrógrado, anticientífico e negacionista, adiando o início de uma era de transformações virtuosas nos modos de vida da humanidade.
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