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 Estou pronto para o Gin e para Hino Nacional

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         Não chega a ser incomum a gente se ver, de vem em quando, enredado em cismas. Hoje, num vai e vem, já recorrente, emergiu minha questão mal resolvida no convívio com o Gin e com o Hino Nacional.  


         Não alimento preconceitos contra nenhuma bebida (mas beba com moderação), por isso não me sinto desconfortável ao dizer que o Gin é a única bebida com a qual não mantenho, vamos dizer, relações afetivas. Minha distância com esse destilado vem de longe, começou a partir de um acontecimento ocorrido na distante juventude. E já faz tempo.


Certa noite, eu e alguns amigos tomamos uns tragos num badalado bar em Nova Iguaçu. Embarcamos em algumas robustas taças de um tal Gin Sour. E foram taças suficientes para que mais um porre fosse adicionado ao meu portifólio etílico. No dia seguinte acordei mal, mas nada que impedisse o meu dia a dia regular no trabalho. À noite, a turma resolve retornar ao tal badalado bar, que inclusive, era local de uma frequência feminina bem apreciável.


E a turma quis bisar o Gin Sour. Ao aproximar a primeira taça, o perfume que exalava da própria, provocou um cataclisma no meu estômago e tive que correr ao banheiro para um vômito abundante. Depois, foi muita água mineral gasosa até me render e ir para casa. Daquele episódio até os dias de hoje decretei minha distância do Gin. “Não bebo mais perfume”, declarei aos amigos, na época.


A birra com o nosso hino pátrio vem de mais longe ainda, dos tempos do colégio. Vivíamos os tenebrosos ‘anos de chumbo’ - que alguns idiotas fascistas querem reviver -, e apesar dos nervos de aço, muitas coisas nos incomodavam. Eu estudava num colégio de disciplina rígida, quase militar: cabelo cortado curto, sapatos engraxados, meias pretas, gravata bem ajustada, ordem e recato durante o recreio, aulas de moral e cívica e todas às segundas-feiras, solenidade com hasteamento do pavilhão auriverde e canto do hino nacional. Um saco, para nós, adolescentes.


O tempo passou, o colégio passou, mas o que não passou foi o leve desconforto ao ouvir o hino, que sempre parece uma obrigação. Vem sempre uma sensação parecida com o que eu sentia no colégio. E cá pra nós, a letra é meia chinfrim, seu Joaquim Osório Duque-Estrada! Uns versos com linguagem indireta, apologia exagerada, sei lá. Soa artificial.


Diferente, por exemplo, da Marselhesa ou da Portuguesa, com versos cunhados em lutas e fatos palpáveis. Tudo bem, aceito as críticas aos radicalismos, mas o hino tem que mexer com nosso interior. Do autor da melodia, Francisco Manuel da Silva eu livro a cara. Prefiro imensamente me empertigar diante da execução apenas da melodia. Sem precisar cantar. Poderia ser como o hino da Espanha, que não tem letra.


Quando o nosso hino é executado, em ocasiões das mais inadequadas, como em campos de futebol, lembro da ‘turma do fundão’ no colégio e da versão cantada baixinho, espécie de forra com dona Elvira, uma inspetora de disciplina das mais Caxias, como então se dizia.  O pessoal cantava: “Elvira uma piranha mais que flácida...” Mas isso era coisa do quinto ano, paro por aqui, ou me denunciam como antipatriota por achincalhar um dos símbolos da República.


         Sobre o Gin, adianto que estou disposto e me preparando para fazer as pazes. Vou me render ao um Gin Tônica qualquer dia desses, um dos drinks que mais da metade do planeta conhece. E eu, não. Sobre o hino pátrio, me disponho a defender a sua execução instrumental, somente. E como a melodia se repete, sem letra não há motivo para a repetição. Como já vem acontecendo em alguns eventos esportivos. A melodia é suficiente. Inclusive para evitar constrangimentos públicos de pessoas errando a caudalosa letra.


Fato que é muito comum.  

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