De Satélite ao Drone: Pesquisador da USP Ganha Prêmio por Impulsionar Software Livre no Geoprocessamento Público
- por Cedro Rosa

- há 4 horas
- 3 min de leitura

O geólogo Carlos Henrique Grohmann, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP), foi um dos destaques premiados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por sua atuação na disseminação de ferramentas abertas e gratuitas para o processamento de dados geoespaciais, especialmente aqueles coletados por drones.
O reconhecimento veio através do Prêmio Drone.gov, na categoria "Pesquisa e Sociedade", durante o 1º Encontro Brasileiro de Aviação Pública Não Tripulada, realizado em Brasília, de 25 a 28 de novembro. O evento, que reuniu mais de 100 instituições públicas, reforçou a consolidação do uso de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARPs) — ou drones — no setor público, seja para fiscalização ambiental, defesa civil ou planejamento urbano.
A premiação a Grohmann não é apenas uma homenagem, mas um símbolo de um movimento maior: a união entre ciência aberta, tecnologia de ponta e políticas públicas. O trabalho do professor, que inclui a capacitação técnica de servidores e a divulgação científica via o canal SPAMLab-USP no YouTube, mira na autonomia tecnológica do Estado, reduzindo a dependência de soluções proprietárias (pagas e fechadas).
Da USP para o Planeta: Um Novo Modelo Digital de Terreno
A contribuição do pesquisador do IAG-USP extrapola a capacitação e entra no campo da produção de dados estratégicos. Grohmann é um dos autores do GEDTM30, um novo modelo digital global de terreno que está totalmente disponível sob licença aberta.
Este modelo é crucial para diversas aplicações, desde a prevenção de desastres até o planejamento urbano, pois ajuda a entender o relevo de uma região. Diferente de modelos antigos que muitas vezes representam apenas o topo de árvores e edifícios (a chamada "superfície visível"), o GEDTM30 utiliza técnicas avançadas de aprendizado de máquina em dados de satélite para estimar o terreno real sob a vegetação densa.
“O sinal de radar não consegue atravessar a vegetação nem o concreto, então você acaba ficando com o topo das árvores e das áreas construídas”, explica Grohmann.
Ao usar dados abertos de satélites como Copernicus (União Europeia) e ALOS World3D (Japão), e aplicar inteligência artificial, o GEDTM30 consegue oferecer um mapa mais preciso, especialmente em áreas desafiadoras como florestas.
Impacto Real: Políticas Públicas Mais Eficazes
Os testes de desempenho mostram que o novo modelo superou concorrentes amplamente usados, reduzindo o erro médio em 27,3% em áreas com alta cobertura vegetal. Isso significa mais precisão onde é mais difícil mapear e, consequentemente, melhores decisões.
A filosofia do projeto é clara: o modelo é aberto e gratuito, inclusive para fins comerciais. Isso alinha-se diretamente com o debate do Encontro de Aviação Pública Não Tripulada, onde o consenso é que o uso de ARPs e soluções abertas deve se tornar uma verdadeira política de Estado.
Como ressaltado por Grohmann, o modelo GEDTM30 é uma ferramenta essencial para embasar a Defesa Civil e a gestão ambiental: “Um dos fatores que mais influencia os deslizamentos é a topografia. Em muitos casos, o modelo de terreno dá um resultado melhor do que o de superfície, porque não inclui a floresta.”
A disponibilização gratuita do GEDTM30 — acessível via Zenodo e GitHub — reforça o papel da ciência universitária na sociedade. O prêmio concedido pelo Ibama ao pesquisador da USP é o reconhecimento de que o caminho para a autonomia técnica passa pelo incentivo ao software e aos dados abertos.
Referência Científica
O modelo GEDTM30 foi apresentado no artigo: Ho YF, Grohmann CH, Lindsay J, Reuter HI, Parente L, Witjes M, Hengl T. GEDTM30: global ensemble digital terrain model at 30 m and derived multiscale terrain variables. PeerJ. 2025 Jul 24;13:e19673.
Sobre o IAG/USP
O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP é um polo de pesquisa essencial no Brasil, formando profissionais e gerando conhecimento de impacto nas Ciências Exatas e da Terra, com destaque para a participação em grandes colaborações científicas internacionais.
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