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HAROLDO COSTA

José Luiz Alquéres é membro titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
José Luiz Alquéres é membro titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

O falecimento de Haroldo Costa, há poucos dias, suscitou várias manifestações de órgãos de comunicação, marcadas pelo reconhecimento do seu grande papel na divulgação do samba, de suas qualidades como ator e sua participação como jurado de programas de auditório da televisão ou de desfiles de escolas de samba no carnaval. Tudo isso, genericamente, sem um exemplo ou algo que fizesse uma ponte entre a sua rica existência e eventos específicos.


Fora ser um grande apreciador de música em geral e de sambas em particular, meu mundo profissional não tinha muita interferência com o de Haroldo, mas tive a oportunidade de vê-lo em cena e de discutir com ele a organização de alguns eventos, o que registro aqui para melhor apreciação da capacidade de diálogo e grandeza de Haroldo Costa.


Ele é considerado um dos maiores participantes da montagem de Orfeu da Conceição, em 1956, peça de Vinícius de Moraes que pôs, pela primeira vez, atores negros no palco do Teatro Municipal. Esta peça inspirou o filme Orfeu Negro, de 1959, dirigido pelo francês Marcel Camus, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960, representando a França. O filme tinha música de Tom Jobim e Luis Bonfá, dentre as quais, as inesquecíveis “Manhã de Carnaval” e “A Felicidade”, um patrimônio fantástico da música brasileira.


Muitos anos depois, eu estava organizando, para o Conselho Mundial de Energia, no qual eu presidia o Capítulo brasileiro, seu Congresso Internacional no Rio de Janeiro. Contratei, na ocasião, Haroldo Costa para estruturar um programa de evolução da música popular brasileira, começando com as modinhas e chorinhos do século XIX, passando pela Bossa Nova e Tropicália, e concluindo com a apresentação de uma ala da Acadêmicos do Salgueiro. Foi um espetáculo realizado para 500 pessoas no grande salão do então Hotel Sofitel.


A partir daí, nos víamos de vez em quando em diferentes eventos, quando tínhamos a oportunidade de conversar sobre temas musicais, muitas vezes em companhia de sua mulher, Mary Marinho, uma das famosas “irmãs Marinho”, trio de dançarinas e passistas dos anos 60 e 70. Sergio Porto, a título de galhofa, costumava dizer: “Não as confunda com os irmãos Marinho, pois elas são boas moças!”


Quando eu presidi a Light, ele organizou alguns concursos de samba de quadra, modalidade que andava meio esquecida na época. Anos após minha saída, conversamos várias vezes sobre a importância que poderia ter a organização, em nossa cidade, de um festival anual que chamaríamos de “Samba in Rio”, por analogia ao Rock in Rio. Seria um festival que se realizaria em fins de julho e destinava-se a atrair um público jovem para ouvir e dançar samba, fomentando a manutenção desta grande herança cultural do Rio de Janeiro, atraindo novos apreciadores ao mesmo tempo que prestigiaria anualmente dois ou três autores, músicos ou letristas do passado.


A ideia não pôde ir em frente. O Haroldo já estava com uns 88 anos e eu, aos 75, sem condições de encarar a coordenação de um evento desta magnitude.


Guardarei para sempre a lembrança das boas conversas que tivemos em meu escritório – e da rejeição contundente a usar o “In Rio” da parte de Haroldo, que sempre, muito atencioso, me falava: “In Rio não, Dr. Alquéres! É ‘No Rio’”.


Repouse em paz e que alguém de coragem toque para frente essa ideia e não esqueça de homenagear essa pessoa formidável que foi Haroldo Costa.

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