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Memórias de um Cachorrinho (12)


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Eu e Maya já percebemos que o Chris viajou de novo. Passamos duas noites perto da porta da entrada esperando ele e daí decidimos ir pra cama da mamãe. Quer dizer, a Maya foi. Eu fui pra da Tweety porque ela está aqui, e então de manhã cedinho eu me mudo e vou continuar a dormir em cima da cabeça da mamãe, que é o meu ritual, como ela diz.


   Não sei o que é “ritual”, mas o que eu faço tem uma importância que não se explica mas tem valor; eu sei que devo obedecer a alguma ordem sei lá de onde que me manda cumprir com o meu ritual. E a mamãe adora me sentir dormindo no topo da cabeça dela. Ela reconhece o barulho das minhas patas entrando no quarto e quase acorda, mas continua dormindo mais fundo quando eu me deito no topo do travesseiro da minha cama, entre a cabeça dela e a cabeceira. Ainda bem que eu estou sempre todo limpinho dos meus spas. Quer dizer, quase sempre. As vezes tem lama lá fora e gruda no meu cabelo comprido. Mas ali no alto do travesseiro, eu fico longe da Maya, fico por cima.


   Quando a Maya sobe na minha cama, ao contrário da minha sutileza, ela vai se atirando em qualquer lugar sem nem ver onde está despencando. Por isso, muitas vezes parte dela cai bem em cima da mamãe. E a mamãe consegue amar ela! E ainda diz que a Maya é tão graciosa porque é uma mistura de corça e cisne. As vezes, quando ela conversa com a Maya, eu fico uma fera porque ela diz numa voz toda melosa como se falando pra uma garotinha:


   “Mayinha, se você é metade corça, a sua mãe era a corça e o seu pai era o cisne!”

   Melhor eu pensar na minha sutileza, que a mamãe bem reconhece. Um dia, ela viu um vídeo de um leão enorme andando super macio pra dar um susto no dono dele que estava de costas. O leão vinha por trás bem devagar, e a mamãe dizia que as patas dele pisavam tão delicado quanto os pés de um bailarino, “Um verdadeiro felino” a mamãe dizia toda admirada. Aí, um dia em que ela estava mais inteligente, sacou que eu andava assim e saiu anunciando pela casa bem alto pra Tweety ouvir:


     “Olha! O Luluco anda igual a um felino! Ele não bota toda a pata da frente no chão quando pisa; parece que sente o chão primeiro com a ponta do pé porque pisa com a parte da frente da pata, é fofo demais!!!” e olhando pra mim, ela disse: “Ô meu felininho!”


   Até aí, tudo certo. Mas dizer que a Maya é filha de cisne? E de corça? Francamente!

Tudo bem que ela é elegante com aquelas pernas e braços super longos que tem, mais o pescoção comprido e os olhos verdes com que ela manda pras pessoas um olhar debaixo pra cima, se fingindo de tímida, mas pera lá. Mamãe tem que aprender a não confundir alhos e bugalhos!


   Mas eu não to nem aí nem pra corça e nem pra cisne. Leão é muito mais bacana!

   Então eu entro no quarto, subo na cama, e me coloco na cabeça da mamãe com passo de felino. Mas de felino grande! De leão mesmo! Sou discreto me movendo e mesmo quando mudo de lugar na cama. Se eu acordar cedo, eu saio numa boa. E ainda espero a mamãe acordar e abrir a porta pra eu ir lá fora fazer pipi. Mas ela falou zangada comigo nas vezes em que acordei ela tarde da noite pra isso.


  “Putz Bowie! e pra isso que eu te boto lá fora depois do jantar. Que saco! Por que não fez antes?”

   Depois ela se arrepende da zanga dela e me pede desculpas toda sem graça.

   Mas a “Princesa Maya”, como a mamãe `as vezes chama ela, acorda de repente no meio da noite, e antes de mudar de lugar ou de posição resolve ficar em pé na minha cama e se sacodir com aquele barulhão da corrente que ela usa no pescoço e do corpo dela indo pra lá e pra cá, que é igual a de um cavalo afastando moscas.  Pra aturar o escarcéu que ela faz, eu tenho de ficar lembrando os meus papos com a mamãe, que rolam sempre antes de dormir, quando a gente está bem confortável na minha cama.


   Outro dia, ela disse me olhando bem nos olhos:

   “Luluco, como andam as coisas com você?”


   Pensei muito, porque tudo é um mundo pra mim. Os cheiros diferentes, as visitas, o gosto da comida, o ar no quintal, a chatice dos outros cachorros, as chegadas do Charlie, os petiscos que a Jenny me traz, os passeios com o Chris, a comida que eu como...


   Mas os olhos da mamãe nos meus e me dando toda atenção me faziam ser tudo pra ela e não precisavam de resposta. A resposta era eu todo ali pra ela. Por isso, ela saca que eu gosto de conversar, gosto dessa hora quando ela para de ficar pra cá e pra lá, de fazer isso e aquilo, e então me vê por inteiro, me dá aquele momento todinho só pra mim e eu fico único! Eu fico infinito e ela sente o meu infinito passando de mim pra ela e dela pra mim!   


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