O Império e o Porco

"O Império era como uma estrela para o resto do mundo. Frequentemente, despertava uma mistura de ódio e admiração nas outras nações. Pois, embora se visse como um modelo de democracia, um farol de liberdade, ainda assim era um Império.

Sua imagem exterior era de igualdade e oportunidade, mas sua sombra escondia uma história de manobras secretas e guerras em países cujos governos desaprovava. No entanto, tudo isso era arranjado sob o rótulo de defesa da liberdade.

Mas falando das coisas encantadoras que o Império deu ao mundo, não apenas sua indústria cinematográfica alimentou as fantasias de pessoas em todo o globo e muitas vezes conseguia ser até edificante, mas também glamourizou eventos históricos reais que mereciam glamour para serem engolidos sem revolta.

Essa indústria promoveu a beleza humana, sonhos, atores e atrizes para serem adorados, substituindo a nobreza do passado, que era vista como designada por Deus. Muitas pessoas imitavam esses ídolos do cinema, torciam por eles e viviam suas vidas por procuração, ou seja, nutrindo-se do que a imprensa dizia sobre eles. Os filmes sancionavam totalmente o culto da personalidade, algo que tem profundas repercussões na alma humana ao reverter para o arquétipo de adoração do próprio homem.

Do Império, as personalidades mais livres e criativas surgiram no Rock 'n' Roll, esportes, iniciativa empresarial e tecnologia. Os produtos que originavam eram exportados e esperados com uma ansiedade que beirava frenesi naqueles que viviam em outras terras.

Após uma terrível guerra mundial na qual a ajuda do Império foi fundamental para a vitória do bem, este Império começou a representar proteção para o resto do mundo. Foi então que ascendeu à liderança do globo. Seus habitantes já haviam passado por outros eventos históricos desafiadores, como uma guerra mundial anterior, uma sangrenta guerra civil por direitos humanos, uma terrível depressão financeira, uma derrota de seus exércitos anticomunistas no Oriente, o ato terrorista assassino e transformador no seu próprio coração.

Os civis que sobreviveram tudo isso ficaram conscientes de como é fácil as coisas mudarem drasticamente. Eles se importavam com a maneira como eram governados e tentavam estar cientes do que estava acontecendo além de suas fronteiras.

Com uma forte influência do puritanismo de seus primeiros habitantes, a liberdade no Império era rigorosamente regulada, e este se via como altamente moral. Seus presidentes tinham que cumprir muitos ideais e respeitar sua sagrada constituição. A inviolabilidade da família era um desses ideais. Se algum presidente fosse flagrado fornicando, seria impugnado. Desrespeitar os decretos da constituição ainda seria ainda pior, e nenhum deles sequer pensara nisso.

Mas com o passar dos anos, as gerações que conheceram adversidades deixaram o planeta, e as memórias dos tempos difíceis desvaneceram. As pessoas que cresceram em tempos de abundância só conheciam a força do Império e se tornaram gananciosas após as décadas em que foram acostumadas à riqueza e ao poder. Ficaram viciadas na gratificação imediata e na auto-importancia, tornando-se desperdiçadoras e descartando coisas que ainda eram novas para sempre buscar o mais novo sem se importar com o lixo que poluíam o planeta.

A disparidade entre a riqueza do Império e a situação de outros países era alarmante, mas aqueles "imperialistas" viviam dentro de sua bolha. A situação do Império era a única merecedora para eles. Ninguém mais lia e ninguém se importava em pensar. Tornaram-se presas da decadência; a obesidade virou um problema entre eles, e finalmente caíram na autodestruição e na perversidade.

Chafurdando nessa lama espiritual, metade dos habitantes do Império começou a admirar um grande porco que viam fungando atrás de moedas aqui e ali e declarando-se um líder enviado por Deus. O porco era superalimentado, barulhento, e propenso a humilhar os mais fracos. Subornava quem lhe pudesse ser útil, mentia a torto e a direita, quebrava acordos e, na busca do poder, dispensava qualquer escrúpulo. Em sua imensa vaidade, que disfarçava como "força", o porco era vingativo, embora, sendo ele mesmo o autor de maldades, não tivesse nada na verdade do que se vingar.

"Olha! Aquele porco é legal; ele se porta como um bom corretor!" disse o primeiro imperialista, vítima da perversidade.

"Falou!" disse o segundo.

"Imagina ser governado por ele! Ele fará o Império maior e mais rico!" acrescentou um terceiro.

Logo, uma multidão começou a torcer pelo grande porco.

"Legal”, exclamavam: "Vai em frente, porco! Ensina pra gente como ser mais poderoso!".

Rapidinho, o porco acabou na casa presidencial, mas de verdadeiro líder, não tinha nada. Tudo o que queria era tornar o Império mais Imperialista do que nunca para se tornar o rei do mundo.

Começou a ofender os países aliados, cobrando arbitrariamente taxas absurdas por suas exportações. Em relação ao ideal de família que outros presidentes honraram, ele era até ultrajante, tendo se casado inúmeras vezes e se envolvido frequentemente com um contrabandista de menores para fins sexuais.

No primeiro mês de seu governo, o resto do mundo estava tão revoltado que um senador estrangeiro publicou as dez coisas ilegais que aquele porco havia feito e que nenhum outro presidente jamais fez, muito menos em tão curto período, começando com desrespeito à constituição. Algumas das pessoas que votaram nele começaram a ficar assustadas, mesmo assim, não lhe faltava cupinchas. Outra grande depressão, não financeira, mas moral, tomou conta do Império. Os mais esclarecidos tentaram alertar os outros, que continuavam agindo como cegos e surdos.

"O que devemos fazer? Como vamos botar freios no porco?" Todos perguntavam.

Quando cheguei a este ponto da história, percebi que a menina já estava dormindo e tentei sair do quarto silenciosamente. Mas quando cheguei à porta, ela levantou a cabeça e disse:

"Espere! Eu tive um pesadelo! Em vez de ter um presidente normal, a gente estava sendo governado por um porco!"

"Foi apenas um pesadelo e vai passar, querida. Pensa em fadas! Lembra da beleza e do poder de Deus!" 

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