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CELEBRIDADE

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A obsessão do Clebinho era a celebridade. Ele não se conformava em ser anônimo, em não ser notado, em não ser convidado para os eventos, em não aparecer na televisão.  

 

Quando decidiu ser motorista de aplicativo, o fez por necessidade, mas também imaginando que, rodando pelas ruas do Rio de Janeiro, em algum momento transportaria alguém mais famoso que ele — alguém que poderia ser sua ponte para o sucesso. Só não imaginava o quanto isso seria difícil. Para começar, não tinha dinheiro suficiente para comprar um carro compatível com o transporte de celebridades. Aquele carrinho, modelo de entrada e ainda usado, não seria admitido no padrão mais elevado da empresa de aplicativo. E, convenhamos, 99 Básico ou UberX não são exatamente o tipo de transporte preferido dos famosos — ao menos daqueles que já transformaram fama em dinheiro.  

 

Clebinho vinha da periferia, mas rodava nas madrugadas do Leblon, da Gávea e do Jardim Botânico, na esperança de encontrar alguma cara conhecida, alguém que já tivesse visto na televisão. Não teve sucesso na empreitada. Após alguns meses apostando na aleatoriedade, resolveu ser mais incisivo e passou a perseguir as celebridades que via eventualmente pelas ruas, nas calçadas ricas da Zona Sul do Rio. Podia ser adolescente de Malhação, criança de programa infantil, até um figurante mais notável de comercial de TV.


No fim, ele queria que alguém o notasse, que essa pessoa o apresentasse a outra, até que, eventualmente, se tornasse uma figura conhecida. O que conseguiu mesmo foram duas abordagens policiais por perseguição e stalking, com idas à delegacia mais próxima. Na segunda vez, o delegado já se referiu a ele como o "maluco da TV" e ameaçou trancá-lo no xilindró caso a loucura continuasse. A celebridade poderia chegar da pior forma.  

 

Ninguém poderia dizer que Clebinho não se esforçou. Fez cursos de ator, de flauta doce e de capoeira na ONG da perifa. A oportunidade de se tornar célebre, porém, não aparecia. Quando casou com Kethelyn, ganhou uma aliada forte. A namoradinha de infância já havia tentado de tudo para se tornar conhecida: foi várias vezes à fila do Projac, tentou Band, RedeTV!, Record, SBT. Fugia da escola para ir a seleções de Paquitas, tentou o auditório do Faustão. Gugu e Silvio Santos eram em São Paulo, e isso complicava, mas ela chegou a fazer rifas que não deram certo — ninguém da família ou dos amigos via aquilo como normal. Cresceram ambos acumulando frustrações, mas com uma esperança teimosa (quase como o "pendão" do Hino à Bandeira, o do "Salve lindo").  

 

Casaram-se após um namoro rápido. Terem se conhecido numa fila de agência de figurantes facilitou as coisas. E mais ainda o fato de terem morrido juntos, numa cena de filme de época. O problema foi que morreram longe das câmeras, o que impediu que o mundo os descobrisse. O desempenho de ambos, apesar da invisibilidade na cena, parece não ter agradado à direção, à produção ou aos patrocinadores. O fato é que nunca mais conseguiram outra chance.  

 

Com os problemas e os boletos se acumulando na mesma proporção em que a invisibilidade os cobria, decidiram, como outros "gênios" da contemporaneidade nacional, içar as velas no caminho de se tornarem, simultaneamente, influencers e vereadores. Seriam vistos! E dali para a celebridade seria um passo.  

 

Um partido de aluguel os aceitou em consignação. Só pagariam se conseguissem algo. A internet fracassou. Não tinham o que dizer. Nem haters conseguiram.  

 

A rádio da cidade da periferia organizou um debate. O clube local não encheu, apesar da grande quantidade de candidatos a vereador — o que tornava ainda mais difícil o destaque individual. Mesmo com o fracasso de público, a rede local de internet resolveu transmitir o debate ao vivo, o que garantiria alguma monetização (ao menos umas mil pessoas deveriam assistir...).  

 

O debate seguiu chato, monótono. A cidade tinha problemas — como segurança pública e transporte — cuja solução extrapolava a capacidade orçamentária e a competência da pequena prefeitura, mesmo com as promessas renitentes dos candidatos ao Executivo e ao Legislativo.  

 

Quando chegou a vez de Clebinho, que falaria imediatamente antes de Kethelyn, ocorreu um imprevisto. Não se sabe se foi por indefinição política (já que partido de aluguel dança conforme a música, sem preferência por direita ou esquerda) ou por absoluta incompetência diante de eleitores, entrevistadores e câmeras — mas o corpo reagiu mal. Uma dor de barriga aguda não deixou esperar pelo banheiro mais próximo. Não houve como conter a diarreia fulminante, provavelmente resultado da somatização do estresse e do despreparo. A equivocada calça branca tornou-se marrom a partir do cós.  

 

E a celebridade chegou. A transmissão ao vivo fez sua parte. Kethelyn não subiu no palco em sua vez — teve que ajudar o marido no infortúnio.  

 

Agora, o esforço era para afastar a fama repentina. Nem mandato, nem programas de TV, e o risco iminente de uma prisão.  

 

Qualquer dia, ele cumpre a ameaça que já fez a muita gente. E muitos ameaçados respondem que ele é incapaz de cumpri-la.  

 

Difícil a vida de um cagão...  

 

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