ENTREVISTA
- Leo Viana

- 2 de nov.
- 6 min de leitura

– Meu nome é Zeca. Sou famoso não. Tenho uma birosca no morro do gambá pelado ali. Perto da boca, mas o pessoal da boca não me incomoda não.
– Eu vim da Paraíba. Tem muito tempo já. Sou do tempo do pau de arara não senhor. Eu vim de ônibus mesmo. Teve uma seca grande lá na região e um político de lá passou nos sítios oferecendo passagem pro Rio. Juntamos os panos de bunda e embarcamos. Eu, a Mariazinha e as crianças.
– De primeiro eu tinha um primo que morava na favela, mas não nessa. Quando chegamos lá não dava pra nós. A gente era em cinco e o barraco era pequeno. Mas avisaram que tinha essa outra favela aqui e nós viemos.
– Fiz de tudo um pouco aqui. Levantei casa pra nós fazendo bico em qualquer serviço que aparecesse. Pedi pra político, pedi pras igrejas, pros centro de umbanda. Consegui umas coisinhas, um material e levantamos nosso barraco de tijolo.
– O senhor quer saber da boca? A boca chegou um pouco depois de nós. De início vinha um pessoal de fora comprar aqui. Meus filhos nunca se envolveram e o pessoal da boca sempre respeitou a gente. Inclusive não se podia fumar ou cheirar aqui dentro. Nem tinha viciado aqui. Nem o pessoal da boca usava. E não se via arma. A favela era um lugar até seguro. Eu tinha mais medo de andar lá embaixo, que tinha trânsito, assalto, essas coisas.
– Isso mudou de uns anos pra cá. O que se diz aqui na favela é que a polícia cobra caro da boca pela segurança. Eu não entendo não senhor. O movimento de fora diminuiu muito, eu vejo. Não vem mais gente de fora comprar aqui. E agora se fuma e cheira dentro da favela. Isso é ruim pra todo mundo.
– Outra coisa muito ruim é que os caras da boca mudam o tempo todo. São uns garotos cada vez mais novos e sempre diferentes. Antigamente eles ficavam muito tempo e eram daqui mesmo. Agora parece que eles vêm de fora. Os mais velhos daqui, feito eu, eles não respeitam mais. Comigo nunca teve problemas, mas os garotos de antigamente pediam até benção na hora da Ave Maria. Agora não. Uma coisa chata mesmo.
– Outra coisa que variou muito foi a polícia. Favelado nunca foi amigo de polícia, mas não sei direito porque, teve um tempo em que eles vinham sempre e a relação era mais tranquila. Não me pergunte o que aconteceu porque eu não sei. Mas foi um tempo mais tranquilo. E o movimento na boca ainda era grande. Foi quando começou a aparecer arma.
– Também teve um momento que a boca saiu daqui de perto e foi lá pro alto. Não entendo disso, mas me parecia estranho, porque era mais longe pra clientela subir. A fofoca aqui era que a boca não tava se interessando mais por droga e que o negócio deles agora era arma e carga. Não sei de nada e nem nunca aceitei negócio de coisa roubada aqui na minha tendinha. Não sei porque, mas nunca tive problema com os garotos da boca. Nem me pedem coisa.
– Não senhor, eu não entendo nada de segurança pública. Segurança pra mim é aquele homem forte que fica na porta do mercado tomando conta do favelado que entra.
– Mas pera aí. Eu tenho uma coisa pra dizer sim. Aqui na favela não tem as coisas que a gente precisa. A escola das crianças é difícil, o posto de saúde é difícil. A gente só tem os amigos, os parentes. Com esse negócio das armas grandes dos moços da boca, do "movimento", como eles dizem, ficou tudo muito pior. Os garotos morrem muito e trocam sempre, nenhum passa dos 25 anos, muito difícil. Não tô defendendo eles não. Escolheram a vida errada, mas aqui é difícil escolher outra. Os meus filhos conseguiram, saíram, nem vem me visitar muito porque aqui é muito ruim e perigoso. A Mariazinha morreu e eu fiquei viúvo já há muitos anos também.
– Eu tenho saudades da favela de antigamente, sabe? A vida era mais dura, a gente não tinha as coisas, não tinha TV, telefone, rua pra carro e muito menos carro pra andar na rua, mas também não via arma e as crianças brincavam na rua. A polícia não vinha e quando vinha não tinha confronto.
– Agora a polícia vem matar os moços e vai embora. Na confusão, morrem os moços da boca, mas também morre muito inocente. A gente fica nervoso, se esconde em casa com medo de levar tiro também. Quando a polícia vai embora, fica aquele clima ruim, muito garoto morto e um monte de garoto vivo e com raiva, querendo assumir o lugar dos garotos que morreram e querendo matar polícia. E um monte de mãe chorando. Triste demais.
– O senhor perguntou antes o que eu achava da segurança pública, né? Eu disse que não entendo nada. E não entendo mesmo. Mas de insegurança, de medo e de violência, isso a gente aqui na favela conhece muito. Eu não vou nem falar de milícia, porque eu já vi mais de uma vez o homem que veio vestido de polícia em um dia e no outro veio oferecer segurança aqui, dizendo que ia acabar com a boca e tal, mas por fora. Isso é assunto pra outro dia.
– É sim. Meu nome é Zeca. Mas eu acho que falei demais, né? Se o senhor for botar isso no jornal, não fala o meu nome não!! Eu sou conhecido aqui na favela, tenho essa birosca há muitos anos. Todo mundo aqui bebe e paga. Polícia, os garotos da boca, jornalista que nem o senhor. Sou um quebra galho aqui. Ninguém faz compra de mês na birosca, mas se faltar um ovo, uma lata de ervilha ou de sardinha, um pó de café, isso sempre tem. Cachaça e cerveja gelada também. Mas não precisa dizer nada disso. Vai que acham que eu sou dedo duro? Nesse tempo todo aqui nunca tive problema. Nem com igreja, nem com macumba, nem com polícia e nem com o pessoal da boca. Tem hora que eu acho que eu sou até imortal, sabe?
– A vida é dura, meu senhor..
– Eu que agradeço. Eu vou ler sim. Sem foto, né? Por favor.
Rio de Janeiro, novembro de 2025.
Inovação e Crescimento: Nobel 2025 Reforça Tecnologia como Motor Global de Desenvolvimento
O anúncio do Prêmio Nobel de Economia de 2025, que consagrou os pesquisadores Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt por seus estudos sobre inovação, apenas reforça uma verdade histórica: a tecnologia é o principal motor de desenvolvimento econômico, social e militar.
Os laureados destacaram como o avanço tecnológico impulsiona o progresso de forma contínua.
Evidentemente a tecnologia é a mola do desenvolvimento humano, desde a descoberta de como produzir fogo a todos os principais desdobramentos como cozimento de alimentos, fabricaçao de ferramentas de pedra, passando pelo desenvolvimento da linguagem abstrata, depois a escrita, que possibilitou aprimoramento contínuo e saltos qualitativos, como a máquina a vapor até o desenvolvimento da internet.
Essa dinâmica se aplica ao entendimento e alinhamento da Cultura e Economia Criativa com tecnologia aplicada a um grande motor de desenvolvimento socioeconomico, com forte componente de inclusão, geraçao de renda e de desenvolvimento, em especial pela grande transversalidade nas áreas de serviço, design, audiovisual, música, literatura, desenvolvimento de softwares, etc.
Reconstrução Criativa para Trabalhadores da Cultura
Aplicando o princípio da tecnologia como motor de avanço, a Cedro Rosa Digital está na vanguarda do desenvolvimento brasileiro. Em uma parceria estratégica com a UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), e com o apoio da EMBRAPII e do SEBRAE, a empresa está construindo uma plataforma proprietária de certificação musical.
Essa tecnologia de ponta permite maior rastreabilidade da música, mitiga fraudes e amplia drasticamente a capacidade de trabalhadores da cultura serem pagos corretamente por seus direitos autorais no mundo todo.
É a reconstrução criativa aplicada para dar transparência e renda ao artista. Ao mesmo tempo, usuários (no caso específico da música, as empresas que utilizam obras como insumos, matérias primas, como TV, Cinema, Rádio, Teatros, Publicidade, Streaming, etc, passando por pequenos produtores de conteúdo) podem ter certeza de estar usando músicas certificadas, que vão permitir que seus autores sejam remunerados por sua criação.
Em uma próxima etapa, essa tecnologia de certificação de obras e gravações será expandida para outros segmentos culturais e criativos.
O próprio portal CRIATIVOS! evoluirá para um hub de inteligência, expandindo seu alcance para se tornar uma referência internacional.
Saiba mais: Portal CRIATIVOS!, Tecnologia Cedro Rosa,
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"Cultura, Sociedade e Outras Teses"


















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